Originalmente publicado em setembro 12, 2016

We do Not Forget, o titulo do novo filme anunciado no site Deadline, que terá como centro da atenção os atores Daniel Radcliffe (Harry Potter e Horns) e Zachary Quinto (Star Trek Into Darkness e Snowden), promete retratar um conflito real entre o grupo Anonymous e um cartel de drogas no México. Roteirizado e dirigido por Zach Helm (Mais Estranho que a Ficção e A Loja Mágica de Brinquedos) e produzido por Antoine Fuqua (Dia de Treinamento e Sete Homens e um Destino), o filme tem uma história e tanto como inspiração…

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2011 foi um ano peculiar para o grupo Anonymous no México. O grupo convocou a população a participar de uma operação intitulada Paperstorm, na qual os manifestantes deveriam mais uma vez ostentar a máscara de Guy Fawkes nas ruas ou em seus perfis das redes sociais. O governo federal maquiava as incessantes ondas de violência dividindo as vítimas entre “heróis e bandidos” ou “danos colaterais”. O Twitter passava por um crescimento de cerca de 33% no país, e estava entre as poucas mídias que o governo federal não estava acostumado a influenciar. Campanhas como “No + Sangre” e “Basta de Sangre” estavam em seu auge até que o governo de Veracruz, encabeçado por Javier Duarte, decidiu punir exemplarmente aqueles que espalhassem “boatos”. O tiro saiu pela culatra e Duarte acabou sendo levado ao ridículo perante a mídia internacional.

Em 15 de Setembro foi a vez de Anonymous mostrar seu poder por meio de sua rede de hackers e cyberativistas inundando diversas páginas do governo como protesto. Em meio a toda essa Guerra Cibernética entre o grupo e o estado, coincidência ou não, entre os muitos “danos colaterais” ocasionados pela ineficácia do governo contra a criminalidade dos cartéis estava uma vítima em especial. Em um vídeo publicado em 1 de Novembro, Anonymous declara que um de seus membros estava fora capturado pelo cartel “Los Zetas”! A Cyberwar se tornara mais palpável do que qualquer um poderia imaginar.

Famosos pelo seu grupo de “Mata Zetas” ou assassinos Zetas, o cartel teve sua origem no final da década de 1990, a partir de dissidentes do grupo de elite do Exército mexicano que se uniram para formar em uma guarda pessoal para Osiel Cárdenas Guillén, então líder do Cartel do Golfo. Em 2010 os Zetas romperam com o Cartel do Golfo, iniciando uma sangrenta disputa no nordeste do país. Os Zetas também enfrentam o Cartel de Sinaloa pelo controle das rotas de narcotráfico para os EUA. Além do tráfico de drogas estão envolvidos em extorsão, roubo de combustível e sequestro de imigrantes.

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Entre os crimes creditados ao cartel estão o massacre de 72 imigrantes da América Central e América do Sul em agosto de 2010 e a morte de 52 pessoas em um cassino de Monterrey incendiado em agosto de 2011 por homens armados.

Pelo sequestro de um de seus membros, o Anonymous decidiu retaliar com a ameaça mais palpável possível. Caso o refém não fosse liberado em 5 dias, seriam divulgados os nomes de taxistas, jornalistas, policiais e qualquer outro dos “colaboradores” dos Zetas mesmo aqueles dentro do governo. Mais de 25.000 nomes e e-mails de mexicanos ligados ao cartel de drogas. “Vocês cometeram um erro ao capturar um de nós… Nós não podemos nos defender com uma arma, mas podemos fazê-lo com seus carros, casas e antros (bares e casas noturnas)… Isso não é difícil, nós sabemos quais são eles e onde eles estão. Informação é livre.” – E finalizando com as palavras características do grupo, “Nós não perdoamos, nós não esquecemos.”

Se já não fosse um cenário suficientemente ameaçador, os Zetas decidiram recrutar seu próprio exército de hackers, ameaçando executar todos aqueles identificados como membros do Anonymous. Páginas foram atacadas como retaliação e receberam a assinatura Zzzz. Não se pode afirmar a origem desses ataques, mas é a mesma constantemente utilizada pelo cartel, como no caso de uma mulher decapitada em setembro de 2011, encontrada pela polícia com uma carta ao lado de seu corpo, a qual justificava sua execução citando suas postagens em redes sociais.

Bem, não sei até que ponto o diretor do filme Zach Helm será fiel à história real, mas com certeza este promete ser um filme contundente.

Autor

  • Raul Cândido

    Raul Cândido é Consultor de Forense Digital, pesquisador de Biohacking e segurança de tecnologias na área da medicina, Líder Womcy He for She, autor na Academia de Forense Digital, e Redator Chefe do portal Hacker Culture.

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